Começou o Sínodo sobre a Família!
Desde o início dos tempos a humanidade
busca o divino. No início eram as forças da natureza tidas como divindades e o
homem adorava o sol e a lua, a chuva e o trovão. Em outros tempos eram os reis
mortais que recebiam a gloria e o louvor de seu povo. Mas, a despeito de toda
procura, sempre que se viu confrontada com a verdadeira face de Deus, a
humanidade a rejeitou. Assim como a parábola dos vinhateiros homicidas (Mt
21,33-43), o povo repudiou e matou sucessivamente todos os profetas que Deus
lhes enviou para recolher os frutos de uma vida mais justa. Ainda assim Deus,
num gesto incrível de amor, enviou Seu próprio Filho, mas os líderes políticos e
religiosos o tiraram da vinha e acabaram com Ele, esperando ganhar à força a
herança que por seus méritos não tinham direito.
Isso acontece porque buscamos um
deus que exija sacrifícios e não conversão. Intimamente queremos sacrificar
pessoas e coisas, mas desde que nos seja permitido manter nossos preconceitos e
privilégios. Você verá facilmente mãos apontando para a mãe solteira e vozes
ferozes contra o aborto, mas em poucas casas uma jovem grávida e expulsa por
sua família encontrará abrigo. Você ouvirá pregadores inflamados contra o
casamento igualitário, mas poucos deles denunciarão a matança endêmica de LGBT
Brasil afora. Mas o Senhor ensina que Ele quer “a misericórdia e não o
sacrifício” (Mt 9,13).
E é confiando nesse Deus bondoso
e compassivo (Sl 85,15), que acompanhamos hoje a abertura da 3ª Assembleia
Geral Extraordinária do Sínodo dos Bispos, convocada pelo Papa Francisco para debater
a situação das famílias no mundo atual. Participemos, ainda que apenas em
orações, pedindo a iluminação para nossos pastores para que compreendam e
cooperem para um real cuidado das famílias e para que nos livrem daqueles que tentam
nos impor pesados fardos e responsabilidades que nem eles mesmos assumem. Em seu
discurso, o Papa enfatizou a responsabilidade do clero de cuidar da família,
mas alertou que também os membros da Igreja podem cair na tentação de se
apoderar da vinha, porque o sonho de Deus sempre confronta a hipocrisia de
alguns dos seus servidores.
Por fim, gostaria de dizer que “todos nós, como pessoas LGBT, filhas e filhos de Deus, nascemos no seio de famílias,das mais diversificadas, e todos nós buscamos viver em família, seja ela eletiva ou biológica. Como Católicos, sabemos que Nosso Senhor Jesus Cristo sempre promoveu e promove mais a família eletiva que a biológica. Ou seja,consideramos que o discurso Católico sobre a família nos toca profundamente,sobretudo porque estas palavras de Jesus nos ressoam: "A minha mãe e os meus irmãos são os que ouvem a palavra de Deus e a põem em prática” (Lc 8, 21).[...] E isto nos leva a pedir que os Senhores (Bispos) não insistam em“defender” a família contrapondo-a aos direitos e à estabilidade psíquica e espiritual das pessoas LGBT. Estas “defesas” soam como forma de se imiscuir de maneira pouco evangélica em vivências familiares complexas em que todos sairiam ganhando se o assunto fosse tratado com honestidade, escuta, paciência e carinho."[1]
Para evitarmos as armadilhas é
preciso nos deixar guiar pelo Espírito Santo. Juntos, rezemos pelo Sínodo e por
todas as Famílias!
Lucas Paiva
Grupo de Ação Pastoral da Diversidade São Paulo.
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