Ele reunirá os eleitos de Deus, de uma extremidade à outra da terra

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus Cristo segundo Marcos 13,24-32 que corresponde ao 33º Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. Nosso amigo Rodrigo Rudi compartilha conosco suas reflexões sobre o texto.


Eis o texto:


O Evangelho de Marcos nos faz reviver a esperança da vinda do Senhor. Esse acordo entre a ausência e o abraço.
Vive-se na contemporaneidade a pedagogia da pressa. Não se saboreia o percurso. Talvez seja por isso que, Marcos, no final do Evangelho, proclama que somente o Pai sabe o dia e a hora em que o Senhor fará brilhar o seu reino de amor.
Perde-se tesouros no vão entre o que o coração deseja e o que está por chegar. Há pessoas que, sob a ansiedade, não são capazes de contemplar o reino que está sobre os nosso olhos. Ele está no meio de nós. Por que não o contemplamos?

Marcos lança-nos um desafio: é preciso encontrá-lo na vagareza. É preciso encontrá-lo nos sinais das luzes supérfluas e na pressa que tanto nos incomoda.
Da mesma forma que, a figueira anuncia que o verão está por vir, a partir de suas folhas que começam a brotar – somos chamados a mostrar essa aliança de amor a partir dos atos que celebramos. Aquilo que eu faço, precisa ser sinal do verão de Deus que está por vir. Como na Leitura de Daniel, “Ora, onde existe perdão, não se faz oferenda para o pecado.” O amor que lanço, o perdão que cedo, precisam ser sinais dessa presença de um Deus que, ainda que tenha ido para a Casa do Pai, permaneceu no meio de nós. É o jeito de amar de um Pai que não quis partir sem permanecer. De um Deus que precisou voltar para a casa, mas quis nos acampar em seus quintais.
Quando a saudade aperta, Ele atravessa a varanda, sorri a nos contemplar e, com suas novidades amanhecidas, brinca de ser humano sendo amorosamente divino.

A pressa não pode nos roubar a beleza da espera. A demora precisa nos devolver a graça da contemplação do que é essencial.

A vinda do Senhor é uma relação duradoura de amor. É preciso silenciar para que seus passos sejam ouvidos. É preciso estar com o coração aberto, livre dos supérfluos, para que, inabitado pelas superficialidade que nos anulam, Ele possa nos transformar em seu pleno amor.

Deus habita no vão entre a pressa e a saudade. Ele está sempre a nos esperar quando, já inebriados pela impaciência, subimos na cerca, encaixamos nossos pés doloridos e escorregadios, a nos iludirmos que, desse modo, apressaremos a sua vinda. Ah, bobos de nós! Não nos damos conta de que, bem ali, atrás de nós, no mesmo quintal, sentado sob a sombra de uma figueira repleta de frutos, Ele permanece a nos esperar.

Talvez, o reino de Deus seja esse espaço construído pelos avessos que nos assolam, pelas esperas que celebramos sobre o altar da vagareza. Talvez, o Reino de Deus, seja um verão capaz de nos devolver a identidade de filhos sobre o colo de um pai que nos ama incondicionalmente.

“Deus mora em mim
Como sua melhor casa.
Sou sua paisagem, (...)
E para sua alegria,
Seus dois olhos.
Mas esta letra é minha.”  --Adélia Prado.

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