Curar-nos da cegueira

A leitura que a Igreja propõe neste domingo é o Evangelho de Jesus segundo Marcos 10,46-52 que corresponde ao 30° Domingo do Tempo Comum, ciclo B do Ano Litúrgico. O teólogo espanhol José Antonio Pagola comenta o texto, em tradução do IHU.

Eis o texto

Que podemos fazer quando a fé se vai apagando dos nossos corações? É possível reagir? Poderemos sair da indiferença? Marcos narra a cura do cego Bartimeu para animar os seus leitores a viver um processo que pode mudar suas vidas.

Não é difícil reconhecer-nos na figura de Bartimeu. Vivemos por vezes como «cegos», sem olhos para ver a vida como Jesus. «Sentados», instalados numa religião convencional, sem forças para seguir os seus passos. Desencaminhados, «à beira do caminho» que leva até Jesus, sem o ter como guia das nossas comunidades cristãs.

Que podemos fazer? Apesar da sua cegueira, Bartimeu «toma conhecimento» que, pela sua vida, ia passar Jesus. Não pode deixar escapar a oportunidade e começa a gritar uma e outra vez: «tem piedade de mim». Isto é sempre o início: abrir-se a qualquer chamada ou experiência que nos convida a curar nossa vida.

O cego não sabe recitar orações feitas por outros. Só sabe gritar e pedir compaixão porque se sente mal. Este grito humilde e sincero, repetido desde o fundo do coração, pode ser para nós o início de uma vida nova. Jesus não passará ao largo.

O cego continua no chão, longe de Jesus, mas escuta atentamente o que lhe dizem os Seus enviados: «Coragem, levante-se, porque Jesus está chamando você.» Primeiro, anima-se abrindo um pequeno resquício à esperança. Logo, escuta a chamada de levantar-se e reage. Por fim, já não se sente só: Jesus chama-o. Isto muda tudo.

Bartimeu dá três passos que vão mudar a sua vida. «Larga o manto» porque o estorva para se encontrar com Jesus. Logo, apesar de, todavia, se mover entre trevas, «dá um pulo» decidido. Desta forma «aproxima-se» de Jesus. É o que necessitamos muitos de nós: libertar-nos de correntes que afogam a nossa fé; tomar, por fim, uma decisão sem deixar para mais tarde; e colocar-nos diante Jesus com confiança simples e nova.

Quando Jesus lhe pergunta o que quer dele, o cego não tem dúvidas. Sabe muito bem o que necessita: «Mestre, que eu possa ver de novo». É o mais importante. Quando se começa a ver as coisas de uma nova forma, a sua vida transforma-se. Quando uma comunidade recebe a luz de Jesus, converte-se.

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